Mulher que fez cirurgia com médico preso em Rio Verde denuncia infecção fortíssima

Ela afirma que tempo de recuperação foi três vezes maior que o previsto, sofreu com desidratação e teve febre. Operação deteve outros dois urologistas no estado e mais três no PR


Uma mulher, que preferiu não se identificar, relatou que foi operada por um dos seis médicos presos suspeitos de reaproveitar materiais cirúrgicos descartáveis e teve problemas no pós-cirúrgico. Os profissionais foram detidos nesta quarta-feira (11), em Goiás e no Paraná. A paciente relata que teve uma "infecção fortíssima" e demorou um tempo três vezes maior que o previsto para se recuperar. A defesa dos médicos nega as acusações.

A paciente fez uma cirurgia em fevereiro deste ano, em Rio Verde, região sudoeste de Goiás, para retirar pedras nos rins. Ao longo da recuperação, ela começou a passar mal e suspeita que materiais que deveriam ter sido descartados foram usados nela.

"Era um processo simples, tipo dez dias e eu já poderia retornar ao trabalho. E eu coloquei esse cateter. Fiz a cirurgia e fui para casa com o cateter, que eu tiraria no prazo de dez dias", conta.

Sentindo muita febre e sem conseguir se alimentar, ela procurou atendimento médico e ficou chocada quando recebeu o diagnóstico.

"Eu já cheguei lá e estava desidratada e foi diagnosticado que eu estava com infecção fortíssima. Eu não pude retirar o cateter por conta da minha infecção. Eu posso ter sido uma das vítimas de ter utilizado um cateter que era descartável e foi utilizado mais de uma vez", desabafa. 

A mulher foi operada pelo médico Ronaldo de Almeida Sesconetto. Ele e o urologista Camilo de Viterbo Idalino foram detidos em Rio Verde. Além deles, um terceiro profissional, cujo nome não foi revelado, foi preso em Goiânia.

As defesas dos dois médicos negaram as acusações. O advogado Edson Reis Pereira, que representa Camilo, afirmou que todos os materiais eram lacrados.

"Nunca utilizou material usado. Isso aí ele garante para a gente porque os materiais vinham lacrados e com o selo da Anvisa", disse o advogado.

A advogada Julyanna Leão Cabral, que defende Ronaldo, seguiu na mesma linha. Ela salientou que o profissional conheceu os produtos em um congresso e que eles eram de boa qualidade.

"Ele teve acesso a essa empresa em um congresso de urologia que é realizado todos os anos. Foi quando ele conheceu a empresa e começou a adquirir os produtos. Todos lacrados e de boa procedência", afirma.

Em nota, o Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) disse que espera que tudo seja esclarecido e que também vai apurar a conduta dos médicos.

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Além dos médicos de Goiás, outros três foram presos em Francisco Beltrão, Campo Mourão e Ivaiporã, no Paraná. No sul, também foram detidas uma instrumentadora e uma secretária.

De acordo com a Polícia Civil, os investigados reutilizavam cateteres e outros equipamentos em até 15 cirurgias. Esses materiais deveriam ser utilizados apenas uma vez, pois era obrigatório o descarte após o uso único.

Além dos mandados de prisão temporária, também foram cumpridas 12 ordens de busca e apreensão.

Os equipamentos eram vendidos a médicos urologistas que, conforme a Polícia Civil, reaproveitavam os materiais em cirurgias de pacientes particulares – proporcionando um lucro maior aos cirurgiões.

O custo dos materiais era de R$ 1,2 mil, porém, eram comprados pelos profissionais por um preço entre R$ 250 e R$ 300, segundo a Polícia Civil.

Os crimes investigados são associação criminosa, falsidade ideológica de documento particular e adulteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais.

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