Google+ está oficialmente morto

Relembre sua história


Esta terça-feira, 2, marcou o fim de um experimento que não deu certo. É a pá de cal final na história do Google+, a fracassada tentativa do Google em se estabelecer como uma potência no mercado de redes sociais e competir pelo espaço ocupado pelo Facebook.

A partir desta terça-feira, você não encontrará mais referências à rede social. Você não poderá mais acessar páginas da rede social, não poderá acessar comunidades, não haverá mais sistemas de comentários do Google+ ou botões de login com a rede social. Se você não fez o backup até a semana passada, seus dados também foram excluídos.

É um fim triste para um projeto ambicioso. Lançada em 2011, a plataforma vinha preencher um vácuo na linha de serviços do Google. A companhia tinha o Orkut na época, mas a rede social jamais engrenou fora do Brasil e da Índia. A proposta do Plus era seguir um caminho mais próximo do que o Facebook oferecia, com um feed similar, composto por publicações de páginas e amigos. 

Como tudo que o Google propunha na época, houve entusiasmo inicial. Assim como a empresa havia feito com o Orkut, seu lançamento foi fechado para quem tinha convites, o que por si só já atiça a curiosidade. Os convites chegaram a ser leiloados no eBay, e a empresa chegou a interromper completamente o acesso de novos usuários por alguns instantes por causa da alta demanda. Era um início promissor. 

No entanto, logo esse entusiasmo se dissipou. As pessoas perceberam que não precisavam de um segundo Facebook e continuaram usando o Facebook original, o que transformou o Google+ em uma cidade fantasma em pouco tempo. Esse estigma se manteve até o fim de sua vida útil.

O Google tentou trazer mais pessoas para a rede social vinculando-a aos seus outros serviços, mas isso teve um efeito negativo inesperado. O número de “usuários” cresceu, sim, mas as pessoas não só continuaram não usando o Google+, como também passaram a ativamente odiá-lo. O maior exemplo aconteceu quando o serviço passou a ser obrigatório para comentar no YouTube, o que gerou ondas de protestos por parte do público.

O Google+ jamais se recuperou de sua impopularidade inicial, agravada com o fato de que a empresa tentava empurrá-lo goela abaixo dos usuários de seus outros serviços. Em seus últimos dias, o Google dizia que o tempo médio de uma sessão no app da rede social era de 5 segundos. Ou seja: as pessoas só abriam o aplicativo por acidente e o fechavam quase imediatamente. Para comparação, o tempo médio por sessão do Facebook é de 20 minutos.


Nem tudo foi errado
A rede social se caracterizou por trazer vários recursos interessantes e que eram subutilizados justamente pelo vínculo com o Google+ e que só começaram a ganhar tração quando se tornaram independentes. Os maiores exemplos são dois: o Hangouts e o Google Fotos. Ambos nasceram como funções para usuários do Plus mas foram liberados de forma mais ampla como parte de uma reorganização da plataforma, que visava reformar a rede social em uma plataforma de “interesses compartilhados”, o que, em retrospectiva, também não funcionou. 

Além do Hangouts e do Fotos, há alguns pontos claros que podem ser descritos como acertos na história do Google+, mas que foram ignorados pela falta de popularidade na plataforma. Por exemplo: a aposta da rede social nos “círculos”, que permitia definir graus de intimidade com contatos, proporcionando a capacidade de escolher quem entre seus amigos, colegas e familiares poderia ver o que você posta. É algo que hoje existe no Facebook e recentemente foi incorporado aos stories do Instagram, mas não existia em nenhuma das plataformas inicialmente.

Da mesma forma, as comunidades, importadas do finado Orkut, foram mais um acerto subaproveitado pela falta de popularidade da plataforma. Tanto é que agora os grupos do Facebook começaram a bombar na rede social e se tornaram um novo foco para Mark Zuckerberg.

Falta de segurança foi a gota d’água
Por mais impopular que fosse a plataforma, o Google jamais havia feito qualquer menção de que pretendia fechar o Google+. Os planos da empresa só mudaram quando foram descobertas falhas de segurança graves que estavam expondo dados de usuários de forma indevida.

A impopularidade do Plus jogou a favor do Google neste momento. Se a plataforma fosse mais usada, talvez a falha tivesse sido amplamente aproveitada por pessoas mal-intencionadas, mas felizmente não foi. A empresa poderia ter em mãos um escândalo similar ao enfrentado pelo Facebook com o caso Cambridge Analytica.

Isso fez a companhia refletir um pouco mais sobre sua rede social. Valia a pena manter o serviço no ar assumir o risco de encarar uma nova falha, potencialmente catastrófica, e se queimar como o Facebook se queimou nos últimos anos? Valia a pena investir recursos para corrigir as falhas, sendo que o Google+ trazia tão pouco retorno para a companhia? Valia a pena continuar investindo em uma rede social em uma época tão conturbada no setor, que lida com casos de demonstrações abertas de preconceito e ódio, transmissões ao vivo de massacres, difusão de boatos e notícias falsas e tantos outros problemas? A resposta do Google para todas essas perguntas foi “não”. E provavelmente foi a resposta certa.

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